Dor e movimento


A história do atleta grego Mílon de Crotona é frequentemente lembrada como um símbolo de força e persistência. Segundo a lenda, Mílon começou a treinar carregando um terneiro recém-nascido todos os dias. Com o passar do tempo, o animal crescia — e com ele, crescia também a força de Mílon, que continuava carregando o animal diariamente, até conseguir suportar o peso de um boi adulto.

Essa história ilustra um dos princípios mais importantes do treinamento físico: a progressão gradual. E isso também vale, e muito, para o processo de reabilitação de pessoas com dor.

Quando alguém sente dor — seja nas costas, ombros, joelhos ou qualquer outra região — é comum pensar que precisa parar tudo, evitar movimentos e descansar ao máximo. Mas, na maioria dos casos, o caminho da melhora passa justamente pelo movimento, respeitoso e progressivo. Assim como Mílon não tentou carregar um boi no primeiro dia, quem está em dor também não deve se cobrar grandes feitos de uma hora para outra.

Na reabilitação, começamos com “terneiros”: movimentos simples, leves, com foco no controle e na reconexão com o corpo. Conforme a pessoa se sente mais segura e a dor vai diminuindo, os desafios aumentam gradualmente, com exercícios mais complexos ou mais intensos — sempre dentro da capacidade individual e do momento de cada um.

Mas por que isso funciona? Porque o nosso corpo é altamente adaptável. Quando você oferece um estímulo — como um exercício leve ou uma carga pequena — o corpo entende que precisa se preparar melhor para repetir aquilo. Aos poucos, ele se fortalece, melhora a coordenação, ganha mobilidade e se torna mais resistente. Isso vale para músculos, articulações, tendões e até para o cérebro, que aprende a se mover com mais confiança e menos dor. É como ensinar o corpo, com calma e consistência, a confiar novamente em si mesmo.

Esse processo exige paciência, constância e confiança. Às vezes, os resultados não aparecem da noite para o dia, mas, com o tempo, o corpo responde. A dor diminui, a força retorna, e a autonomia é reconquistada.

O mais importante é lembrar: você não precisa carregar um boi hoje. Comece com o que consegue. Um passo por vez. E logo, seu corpo vai mostrar que é capaz de muito mais do que você imagina.

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