Corpos de baixa tecnologia


O conceito apresentado por Ido Portal, renomado treinador israelense e criador da cultura do movimento, desafia a forma como enxergamos o treinamento físico. A frase “High tech tools, low tech bodies” (Ferramentas de alta tecnologia, corpos de baixa tecnologia) reflete uma crítica aos métodos modernos, onde academias investem em aparelhos cada vez mais sofisticados para proporcionar conforto e praticidade aos praticantes. No entanto, essa busca pela “inovação” muitas vezes resulta em um treinamento limitado, que prioriza a eficiência, mas negligencia aspectos fundamentais do verdadeiro desenvolvimento físico.

A simplicidade dos movimentos naturais, que por séculos foram a base do condicionamento humano, tem sido deixada de lado. Métodos tradicionais de treino, focados apenas em força e hipertrofia, raramente exploram o atleticismo puro e o real potencial do corpo humano. Eles eliminam variáveis essenciais como estabilidade, percepção espacial, dinamismo, integração corporal, equilíbrio e improvisação, restringindo nossa capacidade de adaptação a diferentes contextos e desafios físicos.

Uma abordagem mais rica e completa passa por explorar o ambiente ao nosso redor como ferramenta de treino. Exercícios no solo, como flexões, rolamentos, movimentação em quatro apoios, utilizar pesos livres, além de práticas na barra, como penduradas, giros e balanços, representam uma forma mais orgânica e desafiadora de se movimentar. Essas ferramentas, de “baixa tecnologia”, exigem do corpo um nível muito maior de adaptação, recrutando músculos e padrões motores que dificilmente são ativados em máquinas guiadas.

No fim, essa forma de treinamento não só nos fortalece e melhora nossa estética, mas também nos torna verdadeiramente funcionais, ágeis e preparados para diversas situações. Esse é apenas um convite para enxergar novas perspectivas de movimento, afinal, a melhor atividade física é aquela que gostamos e conseguimos manter com frequência. Mais importante do que seguir uma abordagem específica é encontrar prazer no processo e fazer do movimento uma parte natural do nosso dia a dia.